O corpo como matéria biológica, é concreto, objetivo, visível, nas dimensões micro/macro celular, química e fisiológica. No entanto, transcende a sua definição tangível, tendo sua complementariedade em sua definição subjetiva. Amparo, Magalhães e Chatelard (2013), apresentam neste sentido, a noção de corpo psicológico. Para estas autoras, o corpo como matéria psicológica constitui um dos elementos envolvidos com a noção de sujeito psíquico. Este se articula com a linguagem, tendo a função de promover a mediação entre “o sujeito e seu mundo interno com o sujeito e o mundo externo”, diferente do corpo biológico que tem a função de servir enquanto massa bruta originária de sensações e expressões cinestésicas voltadas ao mundo externo.

Considerando a plasticidade e dinâmica a qual está sujeita essa imagem do corpo psicológica, que consequências a identidade feminina sofre, a partir das relações construídas culturalmente?
O corpo feminino tem uma história, e como toda história, conforme propõe Dolto, se transforma com o tempo. Do século XIX até os dias atuais, pensando no Ocidente, esse corpo mutável passou por uma importante modificação. No século XIX, segundo Foucault (1984), a mulher tinha seu corpo voltado ao seu poder reprodutivo com o intuito de domesticar e regular os papéis femininos já que se vivia em uma era patriarcal. Cabia a mulher o cuidado com a casa, os filhos, e a dedicação ao marido, ocupando um espaço privado, praticamente recluso.
No século XX, a mulher ocidental passou a ter acesso a novas posições subjetivas, novos status sociais, levando consequentemente há uma metamorfose corporal. A repressão social do feminino aos espaços privados diminui, dando oportunidade da ocupação dos espaços públicos. Essa abertura do lar e seu contexto familiar ao mundo exterior permitiu à mulher a escolha de outros papéis sociais e o desfrute de sua sexualidade, trazendo influências a construção de seu corpo.
Hoje, as significações relacionadas ao feminino são várias, ultrapassando seu poder reprodutivo. Vive-se uma época de franca ascensão do empoderamento feminino, trazendo os diversos papéis que antes eram ocupados pela mulher, como foco de questionamentos e modificações. Há uma pluralidade de sentidos e expressões na mulher moderna que resultam em novos significantes para a reformulação de sua autoimagem.
Daí, vem a importância de olhar para todo o contexto histórico vivenciado pela mulher e de voltar nossa atenção à saúde, transcendendo sua noção biológica, e chegando a noção emocional que influi substancialmente na integralidade do que hoje é ser mulher.
Fica então o convite: como anda sua saúde emocional?
Fernanda de França Lorenção – Psicóloga Clínica
CRP 06/123946
Referências Bibliográficas:
AMPARO, D. M.; MAGALHÃES, A. C. R.; CHATELARD, D. S. O Corpo: Identificações e Imagem. Revista Mal-estar e Subjetividade – Fortaleza – Vol. XIII – Nº 3-4 – p. 499 – 520 – set/dez 2013.
DOLTO, F. A imagem inconsciente do corpo. Tradução de Noemi Moritz e Marise Levy. São Paulo: Perspectiva, 2008.
FOUCAULT, M. História da sexualidade 1. A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1984. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1991.